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terça-feira, 26 de julho de 2011

A Revolução de 89 (segunda parte)

Pessoal, revisando o texto de 'A Revolução de 89', percebi alguns erros e fiz as correções necessárias. Peço a Bruno ou Félix a gentileza de fazer os acertos lá no blogue, caso a postagem de quinta (28/7) já esteja agendada.

***


A idéia surgiu no final do segundo bimestre. Antes das férias, a escola promoveria um evento sobre profissões e cada aluno teria que apresentar um trabalho sobre alguma delas. A maioria dos colegas levou duas ou três folhas de papel rabiscadas com alguma informação sobre o que é ser médico, advogado, engenheiro etc. Seguindo os conselhos que ouvira do meu pai, optei por tratar do jornalista e, como sempre tive certa atração pelo exemplo, bolei um jornal: o Diário do Pátio.
O Diário tinha quatro páginas. Na verdade, era uma imensa folha de papel, dobrada ao meio. Tudo muito improvisado, com notícias sobre o dia-a-dia na escola, algumas piadas e adivinhações para divertimento dos leitores e um artigo de opinião que eu conseguira arrancar da diretora. No alto da segunda página, meu pai me convencera a incluir um editorial, explicando-me que se tratava do posicionamento do jornal acerca de algum fato relevante para o público a que ele se destinava. Foi então que tive o estalo!
Não preciso explicar em detalhes por que meu trabalho chamou a atenção. Em meio a leituras monótonas de dissertações do tipo “o médico é o profissional que trabalha para salvar as vidas das pessoas” ou “ninguém pode vencer na vida sem a ajuda de um professor”, o jornal trouxe o viço da novidade e, quando os olhos caíram sobre o editorial, sobreveio o rebuliço. Foi Alan quem, para lá de ingênuo, meteu-se a ler em voz alta as primeiras palavras:

Para que um grupo precisa de um líder? Para ser seu representante! Para que o representante precisa existir? Para cuidar dos interesses do grupo! Para que serve um general no Instituto? Para ter uma patente, ganhar beijos de garotas bonitas na bochecha e... Nada mais! Então, para que o grupo de alunos do Instituto precisa de um general? Não precisamos de um general, mas de um líder!

Nesse instante, ele aproximou-se e puxou Alan pelo braço, interrompendo-lhe a leitura. Mas outra voz emergiu do pátio, continuando-a:    

Precisamos de um líder que seja a voz dos alunos e reivindique melhorias das aulas à diretora! Precisamos de um líder que movimente a vida dos estudantes com atividades mais diversificadas! Precisamos de um líder que promova a integração entre o Instituto e os alunos de outras escolas! Enfim, precisamos de um líder que deixe de lado patentes antigas e conduza nosso grupo para o tempo da democracia! 

O editorial ainda tinha mais umas cinco ou seis linhas; porém, ao fim do segundo parágrafo, ele já havia se transformado em manifesto. O burburinho começou a crescer, o clima de animosidade contra ele instalou-se e, com mais rapidez do que eu esperava, a revolução começou. Foi Gabinho, meu colega de classe, quem gritou:
— Abaixo o general!
No que foi seguido pela escola em peso:
— Abaixo o general!
Gabinho completou:
— E viva a democracia!
O alunado ecoou:
— Viva!
Então, ele tentou contornar a situação, subindo nos degraus de acesso à biblioteca e gritando para a multidão de colegas no pátio:
— Amigos! Amigos! Não entendo vocês! O que eu fiz de errado? Todos aqui reclamavam da falta de representantes de classe na escola e eu encontrei a solução. Vocês aceitaram que eu fosse o general! Por que essa revolta agora?! O que eu fiz?!
Seguiram-se instantes de silêncio absoluto.
— Estão vendo? Acalmem-se! Não entrem na onda de qualquer aproveitador! Eu não fiz nada! Nada que...
Então, Gabinho saltou do pátio para os degraus e, berrando mais alto que ele, atalhou-o:
— Exatamente! Ele não fez nada! O que ele fez até hoje além de ser o general e se achar o tal?! – uma onda de gargalhadas banhou o ambiente. Nada vezes nada! Um zero à esquerda! Então, abaixo o general!
E todos repetiam com entusiasmo:
— Abaixo o general!
Ao que Gabinho acrescia:
— E viva a democracia!
— Viva! – ouvia-se o eco.
Ele ainda tentou reassumir o controle da situação, contudo ninguém mais o escutava. A agitação se instalara e o conjunto das vozes em algazarra era ensurdecedor. Àquela altura, a diretora aparecera no pátio e já se informara do ocorrido. Ele tentou valer-se de seu apoio para acalmar os colegas e evitar que deixassem de reconhecê-lo como o general; contudo, ela permaneceu indiferente ao problema.
— Isso não me diz respeito. Essa tolice foi invenção de vocês! A mim, só interessa organizar essa bagunça!
Dizendo isso, a diretora ordenava aos berros que os alunos silenciassem e se pusessem em filas, por série, para retornar às salas de aula. Os professores vieram em sua ajuda. O esforço era vão. Ninguém obedecia a comando algum, apesar das ameaças de rebaixamento de nota e suspensão. Ele ainda recorreu à última tentativa de exercer sua liderança. Erguendo-se nos ombros dos dois ou três amigos fiéis que lhe restavam, esboçou no ar algum gesto de quem pedia atenção; mas um ovo acertou-lhe em cheio o nariz e ele foi levado às pressas – e aos prantos – para casa. Depois daquele dia, só retornou à escola para fazer as provas conclusivas do bimestre.

Maldição de Gogól e outros microcontos



IRONIA NO PROTESTO ANTISSEMITA

     Subiu pelado no monumento em memória às vítimas do Holocausto. No peito uma suástica. Braço direito erguido em saudação ao seu líder.
     Mas quando se desequilibrou, foi ao chão e bateu a cabeça numa quina do monumento, acabou socorrido e tendo a vida salva pelo rabino Azrael B. Absalom.

* * *

A NOVISSIMA ROUPA DO REI

     − Então, meu súdito, o que você achou do meu novo traje real?
      − Vossa majestade me perdoe, mas tenho a impressão de que existe um acessório sobrando.
     − Hum! Interessante. Qual?

* * *

ÚLTIMA LEMBRANÇA

     Com a forca no pescoço, segundos antes de afastar a cadeira e deixar gravidade e corda cumprirem suas obrigações, ela se lembrou do dia em que ele lhe jurou amor eterno. E da noite em que o flagrara na cama com a sua melhor amiga.

* * *

MALDIÇÃO DE GÓGOL

     Pingo a pingo, letra a letra, sua obra-prima foi tomando forma.
     Alguns dias depois de pronta foi lançada pelo próprio autor: ao fogo.

* * *

BOLETIM

     Sempre levava pau nas provas. Acabou engravidando do professor.

* * *

MASÔ

     − Não se preocupe. Eu sinto prazer com isso. Agora pegue esse chicote e faça o que eu te pedi.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Pedro pedreiro

Pedro pedreiro, por todos considerado um brasileiro exemplar, nunca chegou a ouvir a poesia que Chico Buarque fez para ele. Não chegou na sua casa um exemplar autografado do LP. A música não tocou no rádio do porteiro do prédio que Pedro pedreiro construiu e não morou. Ah, também pode ter até tocado na TV, mas Pedro pedreiro chegava com tanto sono latente, que depois da sopa de pedras com lingüiça, descansava suas pernas, seus braços, seus ouvidos para o dia seguinte. Que sempre se repetia como o apito cadenciado do trem: o dia seguinte já vem, já vem, já vem, já vem…

Pedro pedreiro nunca soube onde a música sobre sua pessoa tocou – (ou ainda toca?). (Vamos chegar a um acordo em relação aos tempos verbais, daqui pra frente, imaginemos que Pedro pedreiro ainda está vivo, mas por vias de dúvida, usaremos os pretéritos). A música tocou nas melhores rodas intelectuais, da bossa da ditadura nova, entre copos de uísques, camisas estampadas com Chê, sobre blazers blasés. Ao redor das vitrolas, prostrados como budistas em torno de um rinponchê. Lá chamavam Pedreiro, como se fosse um sobrenome de Pedro. Como se ele tivesse, por obrigação divina, essa missão desde o nascimento, mais do que congênita, missão hereditária. Um título monárquico às avessas, um pedigree de vira-latas. Herdeiro do clã dos Pedreiros. Eruditos da pá, do carro de mão, do manejo da brita, da terra, do barro e da colher, obviamente, de pedreiro.

Há quem diga que Chico voltou a falar de Pedro pedreiro noutra música, anos depois, Construção. Onde um operário, se não ele, muito parecido, cai de alto andar e interrompe o tráfego, num sábado, na contramão. Os motivos da queda não são óbvios, nem foram esclarecidos pelo autor, há quem diga que o dito cujo escorregou ao se escorar de mau jeito em umas das vigas de proteção. Devido a tantas vezes que fazia as mesmas coisas, seu automatismo faz com que ele perdesse a atenção. Outros afirmam que não, deram a isso uma explicação mais iconoclasta, inconformado com a atual situação em que se encontrava o país, e suas condições precárias de trabalho e salário, o dito cujo jogou-se para que assim percebessem, em seu último ato, que ninguém estava isento a culpa das atuais condições políticas e sociais do país. Argumentação de uns, conceitos doutros. Pode ter sido um Zé ou um Jão porque o certo é que Pedro pedreiro continuou vivo. Forte. Usando de sua força, o seu maior talento. Acordando cedo, não desistindo nunca de sua missão de mantenedor do lar, de fiel marido, realizando com distinção seu papel de exemplar brasileiro.

E será que no futuro (ou até agora) ainda irão lembrar do Pedro pedreiro, ou apenas da música que Chico fez para ele? Ah, ninguém ao fundo chegou a conhecer o Pedro pedreiro. Será que Chico conheceu algo do Pedro pedreiro? Foi na casa dele, bebeu de seu suco de manga, comeu do seu combinado feijão, arroz e galinha. Pedro nunca ouviu falar de Chico, então Chico não foi, mas bem que deveria ter ido, pois tudo deveria ser feito assim, em duas vias.

No futuro, isso é certo, Chico Buarque vai ser lembrado pela obra incontestável que construiu, anos após ano. Ortodoxo, cimentou tijolo em cima de tijolo, numa carreira com poucas falhas, com mínimos pontos negativos a serem apontados. A posteridade assim por ele será alcançada através de sua obra. Os vindouros que conhecerão suas músicas manterão Chico eterno. E assim, estará cumprida sua missão no terceiro planeta do sol para cá.

Pedro pedreiro quando sol se punha agradecia a Deus e a Nossa Senhora quando ele apontava na rua e estavam todos a espera dele. Eram dez filhinhos, muito pouco, quase nada, mas não tinham filhos melhores em nenhum lugar. Neste ponto do texto é inevitável a referência ao cancioneiro popular que Pedro pedreiro, talvez, sempre escutava nas folgas dos feriados, ou quando tinha tempo livre, ao ser dispensado nas várias crises econômicas nacionais. Pedro pedreiro era um popular. Um desses sem rostos que nunca foram à França, que nunca chegarão a ver a torre Eifel. “É alto que só”, diria. Vez por outra Pedro pedreiro ia ao Maracanã, e o mais engraçado é que assim, como Chico, ele também torcia para o Fluminense, mas nunca, nesses anos todos, chamaram o pedreiro para dar entrevista.

Mas deixando de lado a necessidade humana de atenção, e voltando aos dez filhinhos de Pedro pedreiro, é redundante dizer que eles cresceram, mas certamente com o tempo eles crescerem e por aí se espalharam. Um virou bispo que combatia os ídolos pagões e era idolatrado pelos fiéis, outro biscateiro que estava sempre trabalhando e sempre em casa. Outro vendedor de Viagra que tinha na cama uma mulher frígida. Outro bicho solto que com um revólver no coldre controlava daqui até o outro lado de lá perto de Centro.
Os restantes, viraram pedreiros. Meio que confirmando a tese daqueles: o clã dos Pedreiros não podia parar no Pedro pedreiro.

O pai passou aos que lhe acompanharam no batente os truques, os traquejos com a massa. Ensinou a sempre usar o capacete com a correia atarraxada, como guardar a marmita para a bóia não esfriar, como caminhar pelo andaime para de lá não se estrepar como fez um outro Zé ou Jão que outro dia foi ao chão. É vero que, assim como Chico, que em cada música gravada em estúdio barganhava sua imortalidade, na mente dos filhos, Pedro pedreiro se eternizava. Aquele, à larga escala, este à pequena. Contudo, o macro e o micro é a mesma coisa dependendo de quão perto ou quão longe se olha. Chico preferiu subir, como diz Fernando Pessoa, subir ao terraço e observar tudo de longe. Pedro, por sua vez, fez de um pedaço de lar sua missão. Aquele com o macro, este com o micro. E qualquer um que chegasse, com boa lupa, naquele núcleo familiar veria que através da comunicação oral Pedro pedreiro fomentou seus princípios, tijolo em cima de tijolo: seja um bom pai, proteja sua família e traga o pão suado para casa, mesmo que o diabo amasse depois que asse. Nem todos aprenderam, pois ainda está para nascer no mundo um ser que consiga, tudo. Porém sua missão nesse terceiro planeta estava mais que cumprida, sua semente perpetuada para os vindouros.

E se perguntam: Alguém sabe o paradeiro de Pedro Pedreiro? Virou concreto? Virou pele pra pandeiro? Voltando agora a indagar pelo paradeiro do Pedro pedreiro. Pelas contas, ele já deve ter aposentado, por sorte, morto, enterrado embaixo de uma laje de pedra. Entretanto tanta coisa pode ter acontecido com Pedro de 1965 para cá que podemos simplesmente inventar uma possibilidade para assim satisfazer a necessidade de uns que prezam por uma segura leitura linear com começo meio e fim (e temperada com uma boa lição de moral). Então daremos um fim ao Pedro pedreiro, um brasileiro: ele sucumbiu, era de noite, em um sonho de fevereiro. Fim.

Mas torna-se inconcebível que o Pedro pedreiro vá embora assim, no último trem pelo qual ele esperou a vida inteira – por inferno ou céu, sabe-se lá – e que só seja visitado no cemitério local nos dias de Finados. Correndo o risco de cair em falácias com o que foi falado assim, querendo caracterizar a Pedro o status de um imortal, que é o que fazem com os grandes poetas, escritores, compositores, é inevitável também ponderar outra possibilidade:

Pedro pedreiro nunca envelheceu, durante essas décadas, nunca faltou a um dia de batente. Está lá, no mesmo posto, na mesma obra, com o mesmo salário, come a mesma comida. Conjectura o mundo, ignora a ordem dos planetas, a ordem mundial e sua própria ordem. Pedro pedreiro faz a mesma rota diária de casa para o trabalho e vice-versa. Vai ver se um dia um de nós possamos nos esbarrar com ele. No meio do caminho sempre tem um Pedro pedreiro. Sempre tem um Pedro pedreiro. O tempo todo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

estrofes de 73 a 78 de ODE AOS DEUSES

somente eu sou deus e não desejo nem deístas
que a ser deus eu desprezo aquele que deus não é
e a despeito dos deuses dagora inexistirem
sem precisar de dízimos nem donativos de dó
o orago me fala a fu que o filho bastardo
é somente um cu a cagar nos carolas
merda pra que te quero se não quero querência
é tantos sem tamanho e a temer ser único
por manha de se foder com meu falo no seu foba
mas sexo sem o sangue da saborosa carne
ninguém há de querer pra lhe curar o corte
é somente a palavra da pré-língua ao português
mais drástica e escabra que escreveram os escribas
com que se depara o poeta em sua profissão parteira
pra que o além laudatório em laudas sem ligadura
se arreganhe de bruços no seu buço babado
é tudo e todinho dos terreiros do erro
pra das coisas concretas não ser qualquer algum
é a lavra mais rara de raízes repetitivas
descalabrada e cara de crédito dos caretas
porque na vida lhe troam os tocadores de turba 
em toda e qualquer parte que se parta prum porto
sem que se veja o som da silabação sagrada
que se dobra e se brada nos brechós de bruxeadas


a cintilante sombra da substância humana
é uma assombração de assomos amorfos
do espírito santo que sacode os sufis
está sob nossa sola no sidérico zênite
e sobe soberbamente por sobre as cabeças
pelo nadir nagual dos notários bisonhos
a divinizada sombra que é símia no sapiens
está de noite a bolar nos boatos das boates
ou em frígidos frágeis nas fofocas das igrejas
a materializar mundos de mantras e de rezas
é erro indiscutível e inculto um ilá
que os homens incautos a se inculcar ilusões
não se acertam a setas nas sandias suposições 
acerca do insondável das idéias sem ideador 
que não há homem vivo ou vivido ou vindouro
que conheça um divo ou druida ou dravídico
morto não há homem ou homo ou homúnculo
que conheça um deva ou danês ou daomeano
vivo mais se eu vivo sem venerar os deuses
eu gosto de contá-los tais contos da carocha
mortos mumificados nas mentes atrasadas
não podemos contar os quantos que continuam
vivos quantos vanir são veramente homens
mortos quantos dos manes são dos mântricos numes

e o não existir deuses é meu deus diarista
e meu credo non credo em criador antes de nós
e eu sou o meu deus que não dorme em dólmen
e eu sou o meu credo sem crenças criacionistas
que qual é o benefício dum bosteiro de brama
dividido em dois que divisos em milhões
de darsânicos devas e diabólicos asuras
e somados em ábacos da aritmética dos árias
são domados em domos tal dunas de capões
se vem a vaca e cava a cova cadavérica
da fome desses párias da puta que pariu
a doméstica maioria sem moradia em si mesma
que é comida no prato de preconceituosos porcos
na vitupérica vala dos vedas paquistaneses
que carcomem as carnes da casta heresia
contudo quem é que sabe se a sagrada seboseira
ou mesmo se importa se a indiana indigência
da genética gentalha que janta dos retalhos
é famélico furto dum faquir cafajeste
ou fruto enfeitiçado dês o éden hebreu
do meu cômico encômio e ecumênico ecúleo 
sei só que os simples são de sabidos binômios
palavras da palavra que princípio lhes deu
e números do número que lhes negocia princípios


e foi o nosso início de inteira ignorância
e este intermédio de invenções e inventos
é um medíocre jin que por gênios foi gerado
todavia se vier o fim sem um fetiche final
será a inteligência e a insigne inteligência
será o homem enfim no êxito de extinguir-se
pra se tornar no torno um totem de negligência
como todos os tyrs me têm sido a mim
por serem de infantes a infinda influência
mas o alá do além não atenta ao finito
no seu sensual serralho de safadas huris
no seu harém venéreo de vagabundas virgens
do orgástico janá que do de javé é gêmeo
decorado por hafiz com restos de haxixe 
de onde não se ouve nem orações nem gritos
nem os waswas sofridos de sacanagens sérias
qual é a relevância da radiante realidade
pro aleivoso-morto e mefítico mito
se essas suas mufíticas de medina medíocre
e aradas mentiras de miraj e miragem
de orgíacos oásis no orco do deserto
desbotam e botam em belas bagagens
as formas e as cores que caras não constituem
nem o caminho curto do curso do infinito


um lucífero buda de bundinha batida
apesar da adiposa que aparece no ocidente
não borra e não barra em borra de café
não côa e não aplaca em apliques de agulhas
a carmínica cólera e o cármico ódio
de sextilhões de sombras e serpentinas feras 
que de biológicas-químicas e quiméricas cloacas
de furibundos manes e magistrados manus
manufaturam um mundo de múmias e babacas
mas o gênio imagina de intuitiva intelecção
que é menor na margem que o seu mundo interior
sem que mesmo assim se apresente anão
e o imbecil ignora por ilusória extuição
que é maior na mente que o mundo exterior
mas que ainda assim não se altiva aos outros
porquanto a sair de si o sábio sabichão
é somente as cinzas do cerebrino fogo
e o seu místico amor é ânimo arruinado
na dimensão diacrítica das divinizadas coisas
o sábio é sal-sol que cintila pro futuro
a luz que pelo sidéreo à sombra serpenteia  
mas a sua celebridade pra ser sua não virá
e o seu cítrico ser de salinizar essências
de incontáveis furos é flagrante falência

os deuses desfrutam a destituir frutos
as suas vidas sem morte até mesmo em marte
de por tudo soer em sã sempiternidade
e tempo a perder o seu pó do nosso pó 
sem nada de sofrimentos da suplicada sorte
e de humanas alegrias de ter algum alcorão
os homens empacam nos estados evoluídos
em teovias capengas nas comunas sem corte 
com o litúrgico tudo de teocracias teerânicas 
e o nada de maçã pro murmurante macaco
que ainda se assusta com as aladas eumênides
e lamenta pelos lêmures da linhagem das quengas
dos sofrimentos sacros de seitas e igrejas
e das alegrias alígeras de antros e tabernas                                                                                                  
os deuses fabulosos nos fazem menos felizes
se a nossa felicidade não for dalguma fé
mas sim de vadiarmos sem velas pra visões
bastante distante dela e de seus dons e favores                                                                                                e mais tristes e trastes os tenebrosos deuses                                                                                              desejam nos tornar mais tenros ou mais tarde
se a nossa tristeza cínica não for de seita ou sé
mas sim de se dedicar a destruir doutrinas
e mandalas que mandam com seus murtis hipnóticos
nos mendigos mentais que se melam nas latrinas