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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011


HAI-KARAIS

*

gala rala hai-kai
nem um quarteto pinga
que fraqueza do carai

*

isto não é piada
ao contrário tragédia
não escrever mais nada

*

é isso não é issa
mas ao menos é melhor
que a mesmice da missa

*

que buceta de neve
aqui até no inverno
o meu caralho ferve

*

mais água que em janeiro
somente as xotas das putas
cheias o ano inteiro

*

tranquilo corre o xenxém
às suas margens crianças
se apressam em ter nenéns 

*

fértil solo a vagina
na cova cai um pingo
que enche o bucho das minas 

*

às quatro o galo canta
todo sujo de sonhos
o garoto se levanta

*

o cavalo policial
tá cagando e andando
pro vosso bem ou mal

*

a cadela no cio
doze cães ao redor
da puta que lhes pariu

*

que amor e compaixão  
cães se lambem os cus
em confraternização

*

quanta fez chinês faz
porém ninguém supera
japonês com seu hai-kai

sábado, 17 de dezembro de 2011

beleza

'texto de Gustavo Limeira', pra minha próxima postagem ;D

***********

Hoje um passarinho pousou na minha janela. Não que fosse um ato de destaque em relação a outros ou que fosse um passarinho de especial beleza, mas não consigo deixar de pensar que, se estivesses aqui, terias notado. Que um passarinho pousou a nossa janela. Isso porque tinhas-teves-tens uma coisa de notar beleza onde quase-já não há, onde não mais se vê – num olhar, numa janela, ni mim. É porque beleza só há-de fato quando nós a vemos. E é notável que a maioria das pessoas hoje não notaria um passarinho pousado a janela. Um passarinho pousou na minha janela, consigo te ver na mesa de jantar, entre uma garfada e outra, lembrando do fato e exclamando sorridente ‘um passarinho pousou a nossa janela hoje!’. Era de manhã. E ele não cantou. Pousou, espreguiçou as asas, ainda ensaiou encher o peito de ar como quem fosse cantar. Mas não cantou. Voou. Foi-se. Não consigo deixar de pensar que ainda te buscava nos recantos, nas beiradas, nas cortinas da janela. Um passarinho pousou em minha janela hoje e eu não sei mais porque ainda te escrevo.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Campo

Dilacera meu corpo
Campo de virgens sementes
Garganta de vãs palavras.

Dilacerado campo
Se mente as palavras
Vãs do meu corpo.

Um microconto para Machado

O Espelho

No vidro estilhaçado, agoniza o alferes. Com esmero, Jacobina lustra sua carabina nova. Sentia-se feliz, por possuir apenas uma alma.

domingo, 11 de dezembro de 2011

STAND UP FUCKING IT TUDO



As cortinas mofadas se abriram. Isso não é um conto. É só um amontoado de palavras, se alguma servir pra ti, meus pêsames. Só gostaria de acordar e sacar qual é a parada dessa galera moderna: instabilidade, baboseiras, línguas afiadas na rede, e bocas murchas na realidade. Sempre quis desequilibrar o jogo, chegar pra essa gente e dizer: “Todos temos planos, até levarmos um soco na boca.” Não tenho revolta com o mundo, apesar de ter sido fuzilado por um exército de garotos brancos e saudáveis quando pequeno. Apesar de papai ter quebrado dois dentes meus só porque não aprendi a andar de bicicleta.

“É só pedalar, filho de puta.”

E eu via o canino e incisivo voando.

Isso não me irrita.

Na verdade, eu só queria virar o tabuleiro. Cansei das merdas. Abobrinhas. Estou com vontade de cuspir verdades em suas bocas finas. Vocês falam demais, produzem de menos. Ter que ouvir uma poetisa lésbica falando merda de mim, sendo que escreve rimas do tipo “o amor é uma dor, o coração vacilou, minha calcinha se melou.” Porra mulher, vá se alfabetizar com o capeta. Aproveita e pega um bonde pra casa da sua mãe, aquela vaca parideira.

Eu não sou revoltado. Sério.

Vivo na rua. Um poeta das sacolas plásticas recheadas de restos humanos. Vivo no que você consome na mesa de jantar. Apesar de viver na escória, na ponta do cu da humanidade, afirmo: não tenho fúria. Tenho ímpeto. Nada me agride, mas tudo me atinge. Pessoas que desejam criticar, falar, pensar, sem sequer analisar os fatos me atinge. Ninguém é certeza, ninguém é 100% conservador ou 100% liberal.

Sou 100% conservador quando o assunto é bandido.
Sou 100% liberal quando o assunto é prostituição.
Sou 100% conservador quando o assunto é minha filha.
Sou 100% liberal quando o assunto é cigarro.

Não é simples? Mas não, as pessoas querem se afirmar como únicas. Vocês se entopem de chorume.

Amor e tumores, dessas substâncias que sou feito. Fui concebido pela vulva da Santa Mãe e expelido pelo reto do PAI CRISTÃO. Alimento-me de alfaces rasgadas, ossos de galinhas e jornais com peixes enrolados. Gorduras, caixas de sucos, revistas pornográficas com seus gozos. Gorduras do leitão de Natal, cascas de banana. Amo remexer o caos interior humanóide. Localizo massa abstrata de cabelos, baratas agonizando, cotonetes amarelados, latas de cerveja, palitos com pedaços de bife vermelho e marcas de batom. Janta de primeira.

Peguei os palitos e chupei: salgado. O gosto do alimento conseguiu nutrir o defunto que emergia em meus ossos. Outro dia de sobrevivência nesta cidade insone.

Sorrir para não transparecer loucura.
Sorrir para não transparecer a inquietude que sinto quando olho pra vocês.

Não sou furioso, sou teimoso.

Insisto em querer ajeitar uma coisa ou outra, explicar ou resumir a parada: tanto faz. Isso não precisa fazer sentido. Precisa atingir o alvo. Criadores egocêntricos desejam ser perfeitos, nunca erram e se afirmam como os melhores: seus egos fedem, seus corpos e mentes são mentiras maiores do que a brancura do Michael Jackson. Você, louca, pirada, trepadeira, pensa que um dia irá se achar? A saída para os seus problemas se encontra no topo de um prédio de vinte andares. A solução completa estará no térreo, quando a sua cabeça estiver enfiada no granito da sala de espera. E a roqueira metida à perfeita? Aquela que sabe tudo e tem certeza dos seus passos bambos, até se olhar no espelho e ver o quão degradante ela é. Vocês passaram no semestre da universidade? Nossa, que tal um suicídio coletivo agora?

Não tenho raiva, tenho manifestos.

Continuo catando meus lixos mentais e alimentícios, enquanto jorro palavras sem poesia ao vento.

O cuspe escorre na minha barba branca.

As cortinas se fecham. Fim do espetáculo. Se alguém se sentiu atingido ou incomodado ao ler, é porque foi pra você. Beijos e compartilhe essa porra na casa da sua avó mongolóide, diga que foi o Caio Lispector que escreveu.

Xoxo.

O TAMANHO DE UMA COR

Para Lenilde Freitas

não se pesa
um poeta
por palavras,
apenas

não se mede
um poema
por sentidos
(em cenas)

pois um poeta
é o peso
e a medida
do poema
(ine)exato.

a luz e o rigor
o tamanho
de uma cor.