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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A Ficção Científica, os Robôs e a Modernidade

A Ficção Científica, os Robôs e a Modernidade

- primeira parte -

Há que de alguns meses me debrucei sobre a coletânea de contos organizada pelo bioquímico Isaac Asimov, junto de Patricia S. Warrick e Martin H. Greenberg, intitulada Histórias de Robôs. De bolso, editada pela LM & Pocket, figuras conhecidas e outras não da ficção científica, das quais Arthur C. Clark, Philip K. Dick e talvez o próprio Asimov sejam os mais notórios entre os outros integrantes do time, que ainda se compõe de: Gordon Dickson, Murray Leinster, Poul Anderson, John Brunner e Harry Harrison. Ao palmilhar as pouco mais de duzentas páginas do livro, o sentimento é de empolgação, frieza, indiferença, ora ou outra rútilos de exuberância e criatividade. Mas, o que pretendo mesmo, no Volume 3 da coleção que então se encerra, prende-se nas palavras de Isaac Asimov no auto-explicativo prefácio ensaístico “Os Robôs, Os Computadores e O Medo”.
Frente ao tema, forte no imaginário social, algumas notas do próprio Asimov (2007) acerca do caráter mecânico da sociedade para a qual escreve:
“Mais estranha ainda é a tenaz oposição a qualquer modificação no teclado das máquinas de escrever, embora o padrão universal de hoje em dia seja um disparate criado pelo inventor do instrumento por motivos banais. O mais avançado dos computadores atuais (inclusive o que estou usando neste instante) emprega esse teclado. Na realidade, ele diminui a velocidade datilográfica por causa da utilização desproporcional das duas mãos, principalmente ao favorecer a maior aplicação da canhota num mundo em que noventa por cento da população é mais hábil com a direita.”
“Por que essa atitude refratária a mudanças?”
Okay, Houston, we have a problem. Asimov repreende o leitor com considerações acerca do processo lento de reeducação. Para ele, as pessoas adultas “gastam infinidades de horas para se habituar com polegadas e milhas, com os vinte e oito dias de fevereiro, com letras que não se pronunciam, em night e debt por exemplo, com exercícios de datilografia e sabe Deus mais o quê”. Algo de novo implicaria uma volta aos primevos anos da descoberta do fogo, na qual a humanidade sorria mediante uma fagulha iniciada por um raio e o subseqüente espraiamento pelo vento. Seria talvez como uma volta à estaca zero, com o medo de este fogo se elevar e o incêndio, então sucedido, seja a revolta dos deuses da modernidade contra a humanidade pagã. Trocando o fogo por palavras: correr o risco tão conhecido de a modernidade resultar em possíveis fracassos.
É do “espantoso mundo da antecipação” que Asimov fala aos contemporâneos e leitores de um ou cinco séculos adiante. Medrosos ou não. Enfatizando riscos, questões de ordem moral e ideológicas, há no correr do breve ensaio iniciador de Histórias de Robôs –Volume 3 – um questionamento acerca do impacto do progresso da robótica. Para além do discurso tecnófilo (como o próprio autor se define), reside escondido um foco nas questões sociais de recepção da obra, de inserção dos autores em uma modernidade incipiente, mas cujas fagulhas de silício nos microchips, robôs e computadores já se mostra alçada pelo vento sombrio da floresta. A ciência nunca foi, afinal, tão ambiciosa e nem ainda tão assustadora:
“Mas o que importa, afinal, não é o “robô”, que consiste no sistema de alavancas e articulações que executa a função, e sim o computador, que controla essa função, e sobretudo o microchip, que reduziu de tal forma as dimensões do computador a ponto de já se ver nele o futuro rival do cérebro humano, em matéria de condensação e versatilidade.”
“Temos que admitir que, pelo menos como concepção, o medo não deixa de ser justificado. Não há nenhum limite teórico visível para a complexidade e “inteligência” do computador. Nem motivos para supor que, devido a deficiências intrínsecas, seja incapaz de igualar e até superar o nível de atividade do cérebro humano.”
Esta longa história que perfaz os medos e receios das sociedades ao progresso tecnológico leva Asimov ao insight de um possível paralelo: a revolução industrial e o movimento luddista (manifestantes contra as máquinas que estariam ocupando o lugar dos homens) comparados à então crescente revolução técnica e científica experimentada, sobretudo, pelos Estados Unidos com o pós-guerra e a ascensão de duas potências bipolares, blocos capitalistas e blocos soviéticos. A conclusão é: um complexo de Frankenstein nos assola. Complexo no qual a perspectiva do monstro revoltado contra o criador, clássico da ficção científica escrito pelas mãos de Mary Shelley, revelaria o “complexo do Frankenstein”, destacado pelo próprio Asimov como a síndrome da tecnofobia. Ou seja, esta sensação chinfrim de o cérebro humano, composto de ácido nucléico e proteínas em meio aquoso, resultante de três bilhões e meio de anos de evolução biológica (baseada, como você sabe, em efeitos de mutação, seleção natural e outras influências) contra uma composição de interruptores eletrônicos e correntes elétricas em meio metálico, com apenas 40 anos de aperfeiçoamento da criação humana. Eis o computador.
Naturezas diferentes: é o que se espera de duas inteligências distintas (uma biológica, outra eletrônica), com vigorosas diferenças de estrutura, históricos, desenvolvimentos e objetivos. Mas, se Deus nos legou essa bela capacidade de sentir, aos computadores o opróbrio seria não calcular tão bem. Se avaliados pela capacidade de resolver problemas aritméticos mais rapidamente, e se tal tipo de habilidade servir de critério para avaliar a inteligência, tais computadores podem ser aclamados por sua superioridade intrínseca. Mas, estando exatamente as virtudes humanas nas blandícias do erro, mesmo frente a situações em que a “visão do todo”, a sensibilidade da perspicácia, a originalidade da criatividade e, sobretudo, uma intuição sugestiva são úteis para, por exemplo, decidir a pena criminal de um cidadão, os computadores são terrivelmente ignorantes. Ou algozes arbitrários. O certo, conforme reflete Asimov, é que preparamos os computadores para corrigir deficiências as quais seres humanos como eu ou você não contemplam em suas próprias qualidades. Ou seja, não há computadores intuitivos e criativos unicamente porque não se exige isso. Em um mundo funcional, com códigos e padrões pré-estabelecidos, os problemas são divididos em etapas claras e lógicas cujo único intento é vê-las cumpridas. A simples constatação de que entre um “Yes” e um “No” não há um “Maybe” (Talvez), um humano “talvez”, sugere uma instrumentalização da razão/racionalidade. E se há, conduz a situações na qual o “Yes” e o “No” voltam límpidos e risonhos.
É uma dúvida cruel:
“Para que se esforçar em levar os computadores a desenvolver uma capacidade tosca de serem criativos quando já dispomos do cérebro humano, que faz isso tão bem? Seria tão sábio e prático proceder desse jeito quanto propor-se a treinar determinados seres humanos para executarem rápidas proezas matemáticas segundo os moldes de um computador”
E até certo ponto uma angústia, auspício ou lamentação:
“Por outro lado, duas inteligências diferentes, especializando-se em objetivos diversos, cada qual com sua utilidade, podem, num relacionamento simbiótico, aprender a colaborar com a lei natural do Universo de forma mais eficiente do que separadamente. Encarado dessa forma, o robô-computador não nos substituirá, mas servirá de amigo e aliado na marcha para um futuro glorioso”
Mas, quando a tecnofobia asimoviana, além do medo de que o progresso tecnológico tire o emprego de muita gente ainda traz consigo uma criatura semiperfeita criada pelo homem, fica posta a dúvida: qual o limite real da inteligência humana? Afinal, uma criatura com braços e pernas, pele artificial e um conjunto de características que podem muitas vezes confundi-lo com um ser humano: como uma criação perfeita assim poderia vir do homem? Sob que auspícios? Condição única de coexistência entre seres humanos e robôs, Asimov desenvolve em seu livro Eu, Robô (o qual foi adaptado para o cinema) as três leis da robótica (vista também como uma saída para os muitos enredos repetitivos na ficção científica de homens e robôs):
• 1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.
• 2ª lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
• 3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis.
Pseudo-humanos. A criação de um autômato, de um pseudo-ser humano, por um inventor também humano é, ainda, interpretada como paródia da criação da humanidade por Deus. Nas sociedades cristãs onde Deus é aceito como o único criador, é sacrílega qualquer tentativa de querer imitá-lo, ainda que na ficção científica ou na robótica inexistam intenções conscientes em tal sentido. Mas, materialmente é tudo diferente, ou seja, as coisas conforme vistas e experimentadas neste mundo concreto são tão diferentes quanto a ficção científica o é de uma simples fábula sobre coelhos e tartarugas:
“Na ficção científica, o robô é criado com a maior perfeição. Na vida real, porém , o que hoje chamamos de “robô industrial” não passa de um braço complexo e computadorizado, sem a menor semelhança com o ser humano. Fica muito mais fácil, portanto, visualizá-lo como máquina complexa do que como pseudo-pessoa, mais temido pelo efeito que produz sobre os empregos do que pela imitação sacrílega de nós mesmos.”
Cito, em título ilustrativo, dois contos presentes na coletânea de Histórias de Robôs. Um deles, Uma Lógica Chamada Joe, escrito por Murray Leinster em 1946, faz alusão à utilidade doméstica futuramente atribuída aos computadores. A “Lógica” de Leinster é um box metálico, no qual todo o conhecimento do mundo, da vida e de tudo é respondido por esta máquina que, de uma simples utilidade criada, Joe (nome atribuído ao primevo computador) reproduz-se e instala um caos social com respostas para perguntas como “qual a senha do banco tal” ou “como posso me tornar presidente”. Joe é um Google mecânico para o qual respostas têm de ser claras e precisas. Isso em 1946. Joe é temido e, por fim, proibido e trancafiado pelo próprio dono, o qual não sabe quando poderá utilizá-lo novamente, mas cogita. E assim se encerra o conto. Cerca de 40 anos depois surge os sites de busca: Google, Yahoo etc.
Outro, para acirrar ainda mais a influência de computadores e robôs sobre o que se chama de modernidade, é o conto Prova, da autoria do próprio Isaac Asimov no ano de 1946. Nele, há a insinuação de que um robô poderia ser capaz de governar um estado normal, com seres humanos normais, guiado pelas três leis da robótica (descritas acima) e cujos padrões éticos seriam bem mais sólidos do que os observados na maioria dos políticos convencionais. O conto narra uma história vivenciada por funcionários do governo de um Estado influente, pelo robô cuja similaridade com seres humanos é tamanha que lhe é permitido concorrer legalmente às eleições do governo (mas, imprecisa o suficiente para despertar a reação dos adversários) e, por último, a psicóloga de robôs, encarregada de provar se o candidato em questão é ou não um robô. Bem entendido: neste Estado, não se permite robôs candidatos a cargos públicos. Para não estragar o prazer de quem ainda irá se debruçar sobre o texto, não narro como tudo acontece, mas fica claro no decorrer do conto que o robô candidato às eleições é dado a uma sucessão de provas: “ele é ou não um robô?”. Ele, Robô, busca a todo tempo respeitar as leis asimovianas e ainda assim consegue, a todo custo, passar por um teste maior e “provar” ser um não-robô, mas a partir de uma atitude típica humana, simulada por um segundo robô, de modo que não se desrespeitassem quaisquer das tais leis da robótica (um código de ética indevassável). Curioso? Mais ainda é a reação da sociedade ficcional a uma criatura perfeita, incapaz de qualquer falha ética ou deficiência moral.
Para a complexidade de um ensaio acerca da ficção científica e dos indícios sugestivos da modernidade nas relações entre ficção, sociedade e literatura demonstrarei, em uma segunda parte deste ensaio, quais as questões acerca da racionalidade instrumental, da chamada dialética do esclarecimento e do conceito de modernidade como um risco constante, em que o fogo, mesmo sendo útil, traz por consequência o incêncio; a agricultura, prejuízos para o solo; o avião, a possibilidade do bombardeio aéreo; a tecnologia, a invenção de bombas de hidrogênio; além de computadores que operam máquinas para matar pessoas. Na ficção, tudo se expressa em um contexto específico da literatura de alguns autores. Mais especificamente, na fase em que o progresso tecnológico punha dúvidas sobre a natureza de nossas ações e criações, expressão de uma realidade palpável de artistas preocupados e engajados no próprio tempo.

Referência bibliográfica:
Asimov, Isaac. In Histórias de Robôs 3 v. /ET. Al./ ; tradução de Milton Persson. Os robôs, os computadores e o medo – Porto Alegre: L&PM, 2007.

OBS: Caso o texto seja aceito, encaminharei-o para o e-mail de Bruno R. R. Santos com todas as correções de itálico nas citações, ok?

João Matias.

domingo, 28 de agosto de 2011

MEMÓRIAS CAIXA BAIXA

CONCEITO

o primeiro tema pro poema primo
dito e feito deito e fito medito
mas nunca descanso é que meu mefisto
sempre me alcança o leito onde rimo

e no seu régio rito grandes são os mitos
o único jeito com o qual oprimo
com peito de aço pra subir ao cimo
a letra e o signo o som e o sentido

aí o poema desce horizontes morrem
e o vértice cresce em cristais não raro
numa vertigem cheia de imagens

como se sentisse os deuses meu faro
tão fácil a fala de santas mensagens
que o mais difícil nela é o paro


HAIKUZINHO BRASILEIRO

a princesa espera a foda
o dragão dorme e nada
o príncipe é fada


FÁBULA

repudio na república de sufrágio animal
duas raças ridículas de bicho safado
o cachorro preso e o solto veado
que com os seus rabos ambos cagam pau



quando entre as patas após algum dano
seus rabos não estão os abanam pro dono 

o preso atrás de comida ou de bônus 
o solto de ser comido pelo ânus



e entre os pupilos de papa-menino
há quem se intitule influente intelectual
mas apenas age pelo intestino

e à sociedade causa muito mal
eu que não sou crítico que lhes enojo opino
talvez por ser cabra macho neandertal


SACCULUM ES

me impressiona haver gente baixa
com a autoestima pra lá de lá em cima
medíocre pro qual não importa o clima
se for seu é ótimo o pior que se acha

tão grande a fé do filho da latrina
que nem Deus acredita que sua criatura micha
se pabule tanto do nada que publica
e Ele pio nem pio pro tudo que anima

me impressiona porque enquanto os maus
se empavonam e abocanham prêmios
alguns bons sem bico na sua boca nem sal

mas existem os deuses e adoro o Gênio
de gênio arrogante que se diz o tal
e mete o pau no pum do ladrão de oxigênio

terça-feira, 23 de agosto de 2011

poema para publicação no blog



Geração 666

Cria de repetidas relações incestuosas,
Da boca escrota jorra o mel do teu batismo,
A Coca-cola, sangue novo do teu Cristo,
Assim batiza, com arrotos, o seu filho.

O Shopping – Center, catedral do Bem Sagrado,
É o lugar para cantos e louvores.
As menininhas e os meninos sem pudores
Vão se entregando de pouquinho aos vendedores.

E no fim da missa ou do culto se quiseres,
Já vão em fila, todos prontos a comungar
O pão sagrado que sem gosto se embebe
De molho choco que os fazem vomitar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

TROCA

Há de se perder tempo
para ganhar liberdade.
Olhos cristalizados
Saliva apurada pelo deleite.

Há de ser ganhar alegria
para perder insônia.
Cantos de boca
mastigam os dias futuros
antecedem escondidas dores.

Dê-me algo para entregar-me
Meu preço não é caro
mas é raro.
Passe a recompensa de uma mão para outra:
uma rouba
a outra doa.