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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

diacáustico






Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.

(Adélia Prado)




Vi em teu dorso o corpo de deus. Sob os céus recortados em nuvens vi teu prumo tomar palmos de terras em tua ária de cânticos. Teu quintal de brincares de ares de outros tempos. Vi o hemisférico erotismo de teus pensamentos tombados em mim e tuas plantas de arrancar leveza das coisas que não são brandas vindas de tua boca que canta sacrifícios. Vi, à pálida veracidade dos lábios do criador, a bestial cegueira dos errantes guerreiros que te erguem os ombros. Vi a mentira formulando açoites de derrota e tua vitória é sempre olhar para trás. Vi, com tantos olhos de olhar tua miragem, teus punhos em combate de matar-me sufocada de amor dormido, amor romântico, amor tecido. E, de teus altares, corajosos santos adestram rios ao resistir de um sol poente que nos guia sempre enquanto, em vãos, homens comemoram misérias. Deus fez da terra o baldio elementar de tua indecência. Teu sorriso é pura crueldade sádica dos leões que enfrento. Ouço de tua boca o que apenas o deus saberia dizer. E de minha boca terás o acorde de meu canto feminino que somente eu aprendi a reger. Ora a língua entorna o caldo entorpecente de um feitiço que somente loucos concebem. Esta aventurosa sede romântica repele ignorâncias. Em teu inferno adorno as mãos do demônio que admiro. Nasce então minha criatura no sangue que corre em tuas veias e a ti ofereço a mesma praga. Subvertida a maldição é contraída, doença repentina, e que te sirva de alimento meu corpo de entregar-me ateu.

Além do fim do mundo


Para José Epaminondas Braga, meu avô paterno




 Era no tempo de Lampião. Os meninos brincavam do lado de fora da casa. À tardinha, a mãe achegou-se à janela e mandou-os entrar… que o pai já ia chegando pra reza e a chuva não tardaria. Os dois largaram as castanhas na porteira do curral, lavaram as mãos na cacimba e apostaram corrida para dentro de casa. O pai já se tinha recostado na cadeira, a mãe acendia a vela debaixo do Sagrado Coração de Jesus e, só então, os meninos sentiram o frio na barriga que a lembrança causava: seria aquele o dia anunciado?
 Cada qual se agarrou ao que podia, o maior à saia da mãe, o menor às pernas do pai, este e aquela às contas do terço e todos quatro ao rosário de Nossa Senhora. Creio em Deus Pai… e em Jesus Cristo… no Espírito Santo… na remissão dos pecados… na vida eterna, mas o amém ficou suspenso: um relâmpago clareou o céu – quase escuro, que tinha sido dia nublado e pouco se tinha visto o sol –, os quatro olharam com espanto para fora e ficaram à espera… “Quando o sol se puser, ao ribombo do primeiro trovão…”
 Mas não se ouviu o trovão e a reza continuou. Pai Nosso, que estais no céu… seja feita a Vossa vontade… e do céu a chuva começou a cair… perdoai as nossas ofensas… o segundo relâmpago, novo suspense, nenhum trovão… e não nos deixeis cair em tentação… mas a chuva começou a engrossar e a estalar nas telhas… ave, Maria, cheia de graça… e o pai de olho fechado… bendito é o fruto do Vosso ventre… e a mãe de olho nos filhos… rogai por nós pecadores… e a chuva estalando nas telhas… agora e na hora de nossa morte… e nas telhas o medo sem grito… glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo… e a cada clarão o suspense… pelos séculos dos séculos… e a cada amém o alívio…
 O primeiro terço nem havia acabado quando um dos meninos adormeceu nas pernas do pai. A chuva já estalava com menos força nas telhas e logo começaria a cair de mansinho. Mal terminado o segundo Credo, o outro menino adormeceu nas pernas da mãe. O pai levantou, colocou o primeiro na rede e balançou até assegurar-se de que o sono já se tinha instalado. Na sala, a mãe continuava por todos vigília adentro. Depois de ter colocado o segundo na outra rede, o pai voltou para a sala, sentou-se ao lado da mãe e continuaram juntos rosário adiante… enquanto a chuva se ia raleando… enquanto a vela se ia consumindo…
 … a cabeça despontou para fora da rede, os olhos espantados interrogaram através da janela. Havia sol lá fora e o céu continuava azulzinho; o telhado acima da cabeça, inteiro, e as chinelas abaixo, no piso… acorda, acorda! – e o irmão, primeiro assustado, depois surpreendido, saltou no chão. Trocaram um abraço, depois um sorriso. O pai e a mãe tomavam café na cozinha… que Deus tinha ouvido as preces e o mundo continuava inteirinho! O compadre avisou que tem circo na praça… e os olhos ficaram pedindo…
 À tardinha, saíram os três a caminho do circo. A mãe ficou em casa… que era preciso agradecer ao Sagrado Coração a prece atendida. O pai ia passo a passo, os meninos iam de pinote em pinote. Aqui e acolá, desviavam de alguma poça deixada como vestígio da véspera… que o mundo não se acabou e isso aqui vai ficar bem verdinho – olhava o pai para os galhos torcidos… que o fim dos tempos não chegou e o leão vai estar rugindo – os meninos em frente, o horizonte ao longe, a torre da igreja pertinho…
 A cidade caída em ressaca: à direita, no alto, o colégio do Padre Rolim e o sino batendo… à esquerda, adiante, o colégio das Dorotéias, silêncio… alguns passos e outros pinotes, a praça se aproximando… a rua dobrada, quarteirão percorrido… a lona do circo armada e a bandeirola em cima – o vento bulindo… quem chegar por último vai ser a mulher do padre… e o pai logo atrás vem sorrindo… mas a lona estava fechada… e as jaulas, por que escondidas? – Dia de folga, seu moço, os artistas passeiam no Brejo das Freiras. Os meninos sem graça, chorando… e o pai, no aperreio, assistindo…
 Foi, então, que se (ou)viu logo além, na esquina: o carrinho de mão, o letreiro, a buzina… fon, fon… outro fon e as lágrimas foram embora… mais um fon, começou a corrida. O pai tomou a palavra: - o que é que se põe no copinho? E a resposta na ponta da língua: - se põe gelo, depois o xarope e, por fim, o limão no cantinho… quero um!… quero outro!… quero três e me faça aquele precinho! O rapaz preparou cada copo com esmero, seguindo à risca a receita. Terminado o processo, resgatado o custo… cada qual com seu copo, cada gole…
… um susto! Ai que dor na cabeça! – gritou o primeiro. Ai que dor na minha também! – repetiu o segundo. Mas o pai, experiente, sorrindo: não se toma gelado assim… tem que ser devagar, devagarinho. E os filhos, felizes, enfim. Se o circo estava fechado, o passeio já tinha valido, porque a mãe esperava em casa e o mundo não ia ter fim… passo a passo, o pai… de pinote em pinote, os filhos… o colégio em silêncio à direita… à esquerda, no alto, bem… bem… na calçada, Maria banguela e ao seu lado, entroncado, Seu João… os meninos cantando assim:

Se coco não tem semente
Nem banana tem caroço,
Borboleta não tem dente
Nem botijão tem pescoço!

E Maria zangada, exigindo atitude… mas Seu João disfarçando um sorriso entre os dentes… passo a passo, o pai segue em frente… e os meninos pulando além…

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

SILVA


no prateado da página um purpúreo leão
se arma amargurado
num rompante rampante e de rubra presunção  
sem armadura linguado
por este ora eclipse que embora logo irá
pois minha coroa sem castros 
não esfriou um grau ou grama de gravar
na aristocracia dos astros 
e de manhã mais marrom de macheza e tropos
voltará embora desde
a estreia eu esteja no evolucional topo
e daqui deste leste
o meu rugido régio redijo em hino culto
e lentamente danço
à margem dos movidos e me moverei vulto
depois de dez descansos
prum latrocínio ligeiro de lábios no pescoço
das presas que quanto maiores
melhor seu precipício o que prezo sem preço
sem mesas pros molares
nem talheres de corte que castrem meus caninos
felinos de toneladas
de agudeza sem pena dos parvos pequeninos   
sem tempo pra minha toada

sonante e mudando de metro não de mister
eu ondulo canoro
sem deixar de exercer meu épico de elite
a cancionar sem coro
egoísta e egocêntrico de elevado alvitre
pra ambição que aprimoro 
na primavera sem cova pro meu coração de leão
nem azar de zodíaco  
nem hércules que me sangre ou sagrado sansão
eu me zero a zica  
mas não obsto o horóscopo me originar em leo
leal mas sem lisonja
porque eu vim da selva sem submissão nem a céu
e me lembro das monjas
já distante de roma mas com roma ranzinza
no cós e aos calcanhares
e as dúvidas do demônio pra mais desejo inda
com as canônicas pares
patrícias pela graça pré grécia e pós groove
da pirotecnia do púbis
saudoso sou das santas e sonsas de jovem  
mas nem ceutense beatriz  
nem toscana santinha a selva selvagem
com beijos me bendiz

meio homem de botas e de bodas meio bode
sou todo deus e fico
a cara do capeta comigo ninguém pode
o filho do fogo fixo        
inflexível no ideal de ilíadas escrever
sem carecer ser cego
ou não ter existido nem excogito esquecer
pois meu sonho é meu ego
em todo sonho meu falo qual fântaso fobetor
e morfeu a orquestrá-los  
à flauta sou criador de cabras e comedor
de ovelhas em meu onfalo
nome do conhecido no cosmo pro sem cor
herança de himeneus  
bem mais saudoso sou da solidão das selvas
que não existem ou céus 
os sátiros safados com safadinhas na relva
são somente meus eus
as ninfas pelo pecado com pã e assim mais prazer
no menino sem mora 
dizem que ainda em roma sem ruído de romance
e até antes das âncoras
a solidão da selva me salva a todo instante
meu albergue a qualquer hora

mas ora na multidão os meus muitos milênios 
são somente lembranças
de quando existiam heróis e excêntricos gênios
de literatura e lança
memórias sem nem moedas pro mês da enfermeira
dívida pra que diga
estás vivo todavia é triste a tremedeira
e as dores de barriga
das grandes navegações um náufrago necrosado
fui de rei a vice-rei
e pólvora na província pro príncipe sem ducado
retrocedi de marquês
a conde sem onde ver o visconde de vaidade
com morada e sem tostão
o barão virou vilão nas vis modernidades
sem teto ou quase tão
contente com sua casa de confortite e seu voto
de confiança em dado fado
por cruéis pra despojar o doce do devoto
feliz com o finado
escravagismo e co fardo nas fábricas de frissons  
e a livre expressão
de asneiras em alto e analfabeto som
pro enlevo da excomunhão    

de fidalgo eu fui a filho de rapariga
estou na boca do povo
privado mesmo com posses pois a plebe não é rica
de pensamento e provo
está na mente dos ricos ridículos com reais    
de ilusão sem realeza
sem religião conquanto construa e lote currais
pois nem pra si mesmo reza
de inventor da igreja pra inalcançáveis alturas  
a seitas ilegais
sem gota de grandeza goram goda arquitetura
na indigência iguais
sem freis padres abades ou se há a mesma usura
sem cônegos nem cardeais 
antes fosse pagão mas paga pro pastor
lhe julgar o juízo
sem juiz nem promotor a preso sem pudor  
por jujubas e deslizo
de alferes e um monte de militares ao mar
de desafios seu deleite
a civil cheio de direito com dengo pra desmamar
pois eleitor por leite
de sua parvoíce sem pai e padrasto não dá  
pra que legados empreite

se foi uma grande chance de chanceler e chefe
da civil casa ou milica
presidente sem diploma diplomata não defere   
sumos sonhos de chica
apenas a avareza do mais adiposo pobre
e ao seu dono mais dinheiro
que nem existe sem risco nem rasga sem quem roube  
e denego o rasteiro  
nem quero ser um premier se só prata for o prêmio
prum joão qualquer se lasque  
se eu não for o rei pra rumos de nunca remos 
que vivam novos velásquez
por agora eu não sou mas sonho que seremos
sairemos desta poça
de cretinos democratas a depravar a dama
no presente sem quem possa
isso é uma lástima mas a lágrima não lama
quero é qualidade
e em cada qualificado a quantidade é gama
pra cobrir eternidades
e quem sabe do enxame exército de escravos
não sai de mel um mar
do leão pra lutar sem luto pra bem mais bravo
com os mouros sem alá

nossos bárbaros sempre e são estes tais cegos 
meus civilizadores
à porta da cidade nos sitiando o sossego
sempre novos sabores
nos proporcionam ainda que um amor amargo
o cadáver reavivado  
e eu também fui bárbaro e dos bandidos mais brabos
de barba ruiva à roda  
da cidade eterna e estragando o estado
pra acaralhar a cara
do papa por eu querer outro cristo e consegui-lo
não me custa carrara
mas hoje de baixa crista embora carregue comigo
no coração de pavios  
a cruz e entre esta e a espada encastelado
sobrevivo sombrio
em cartas pra casa sem correio amuado
sem selo no extravio
das náuticas que nunca a um navio deram a luz
mas as haverá alterado
pra hologramas da natura e naves novas em nous   
argos de ars qual dardos
a outros orbes meus planos a longo prazo pois
o destino não é dado

por agora apenas meu atrevimento barroco
porque jamais foi gótica
apesar de alderedo minha ambição sem troco
e sim gangorra gongórica
entre o bem e o mal no momento mais pra má
entre a salvação
e o abismo aonde ancorarei sem parar
entre o sim e o senão
o não enseja esperar e sua esperança amém  
não mais venha adventista  
a minha palavra precisa prevalecer pra além
eu artista autista
escrevo este enorme escudo do que quase
não se acha as pistas
nem a quinta sucessora da selva que se sobrasse
pra eu farejar as flores
primitivas do lácio à lusa bem mais loas
pois lhe fixaria mais cores
nem a afilhada torre das tombadas de troia
se a figueira ao menos
restasse pra resguardar-me um risco de sombreiro
beira tibre ao tirreno
pro nostrum mare e margens dos mares do mundo inteiro
se transformando em terreno

escrevo pro troiano trespassar logo turno
e conservar de castela
o castelo do meu seio pra sair do soturno
muito cara espanhola
que desfigurou meu dom pra ser a dona de tudo
proteger de portugal
o porto com plataformas pros povoados mais rudos
projeto nada mal
pro galego gaiato de minha gala escapar    
mas pra menos mourarias
eu quem os quis num surto na senda de santiago
pro sul que me orientaria
nos luzeiros do luiz de lisboa mesmo meio cego
dum olho ourivesaria
nos oscuros luzeiros do luiz latinizante
de córdoba mosaicos
e néscios de eu ser seu norte e meu nome responso
prum monte de monarcos
nem nota pro meu nome nos nobiliários alfonsos
de marcos té no japão
mas não me podem tirar este triunfo de terra
meu lema é legião
dês os celtas sumindo nas civilizantes guerras
legais cristãs ou não

embora tenha a semente sumido dos salões   
pra que frutos fecundos
fulge em cada flor se fauna em extinções
pai fauno nos dá bundos  
e mãe vênus nos brinda com as mais belas bundas
do seu coração ideário
que cancioneiros o instinto ibérico infunda  
pra instituir impérios
ainda que me neguem pois não nado mas normando
também depois do ducado
de mim novos mundos ao mundo foram dando
e darão mais uns bocados
de mim todo o ocidente e não me ouve o oriente
embora brade o meu bardo
a china e a índia ingentes indigentes
ilhas quase agora
minhas e me ignoram o idioma sem ler
até áfrica se arvora  
o meu couro curte tão quente e esmoler
e a efígie me enjaula
pra estações de rádio e eu a rir que me repartem  
em percutido peso
entre os que ficam fiando sua fome e os que partem
da pobreza alheia obesos

mas um dia o leão vos come de novo em cada cabo
em navarra por violência
na galícia em aragão e nas astúrias o rabo
de valença a valência
da terra nova a terra do fogo torres e sinos  
na austrália meu cívil
na frança e inglaterra e na itália intestino
onde o silvo dos sílvios
apontaram por agouro de anquises e latino
e os sinais ainda vivos
por enquanto nem hermanos europeus me sabem
pra eneida da nova roma 
nem os norte-americanos meus netos me notam
sem rômulo e remo
no brasil onde me meto no mato me meteram
mas um dia arraiais meus
qual foram dos meus filhos que por fé os perderam
ao alcançar o apogeu
pouco perduraram por pelejas sagradas  
adversários de si e deus
mais que inimigos do islã e de israel barbarizadas  
aldeias são ainda
onde que se odeiem longe horrores da alborada
do amor de enéas e lavínia

e eu ainda sou bárbaro embora sem barba bárbaro
não obstante os óculos
pois o ouro é o olho mas não obsto ser pícaro
e organizo meu foco
nas letras nas quais ligo o luminoso espírito
pra conquistar o cosmo
após cada das costas e cada dos territórios   
clareados por meu cuspo
as cidades sumindo pra selva refeitórios   
sou selva cercada a muros
que depois de derrubados em três dias os reerguerei   
cintilantes do meu duro
os restos das repúblicas e rindo pra nova grei
ressurgirei dos que rápido
me esqueceram esquecidos já por este agouro
ressurjo pra sempre válido
em potência e promessa do pó dos outros ouro
se deixam disfarçados
de ser bárbaros e são qual sou civilizado
pra em décadas o mundo  
eu da sua circunferência pro centro da ciência
de novo civilizar
da saudade da silva e da seiva esperança
soberano de sanhauá

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

corpses

um corpo funciona mais ou menos da mesma maneira que um poema.
um corpo precisa de água, luz, comida, cama, quintal.
um corpo também requer que uma mão carinho passe sobre si quando em vez.
da mesma forma o poema.
o poema precisa a luz água cama comida quintal.
o carinho, o poema chama.

assim como os corpos, quando nus,
os poemas também se deitam juntos, unos,
atravessados,
esfarelando os suspiros uns aos outros.

os homens bebem dos copos,
os poemas dos corpos,
os corpos dos homens.
a cada verso, um gole.

tal feito o poema,
os corpos se lêem uns aos outros.
se desvendam, se escrevem, se remetem e
sobretudo
se rasgam e se rabiscam. Se rascunham.

poemas lavando pratos,
corpos juntando poeira nas estantes.
poemas pagando contas,
corpos sendo roídos pelas traças.

assim como o corpo,
o poema também tem
prazo de validade:
a eternidade.