BLOG APENAS PARA ASSUNTOS IMPORTANTES DO CAIXA BAIXA, PARA EVITAR QUE OS INFORMES SE PERCAM NO MAR DE E-MAILS DO GRUPO.

segunda-feira, 25 de junho de 2012




Poema finalista do Poesia Encenada 2012 - Evento promovido pelo SESC - PB


O Carpinteiro

Vi tantos hinos
para embalar
Jesus menino,
Vi tantas bocas
para louvar
Jesus de louça,
Vi tantos braços
para erguer
Jesus de barro,
Vi tantas armas
para jurar
Jesus de Praga.

Pobre Jesus, não queria nada disso.
não queira ter manchado nossos pecados
com seu sangue sagrado.
Ele queria mesmo era ser carpinteiro,
talhar madeira o dia inteiro,
e à noite, quando o vinho desfaz segredos,
ouvir histórias de heróis e seus degredos,
e na manhã seguinte, beijar José, beijar Maria,
sem nada nas costas para lhe pesar o dia.
Jesus queria ser leve, carregar a cruz da vida,
por mais que esta pese.
Jesus queria ser carpinteiro,
beijar José, beijar Maria, beber vinho e ouvir histórias.
Não se enganem!
Jesus queria ser apenas carpinteiro
e, em paz, talhar madeira o dia inteiro.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

UM CONTO


RECONTE

A história do rapaz perdido no campo, que vagava sem ter o que fazer, sua mente estava vazia. Perdido e de cabeça vazia, propício para não ser encontrado, talvez que estivessem a sua procura, talvez que não o procurassem. Uma trama sem pé nem consentimento se anunciava a nossa vista, mas de uma hora pra outra, deu uma reviravolta quando o rapaz, perdido no campo, avistou uma flor, uma flor pequena e amarela, que brotava do chão. Não teve dúvida, se agachou e a observou, ato continuo, destacou-a, pegou a flor pra si. Se levantou e, com a flor na mão direita, observou-a com mais detalhe, aproximou do rosto e a olhou com o olho direito, fechando o esquerdo e esmiuçando a vista. Contou uma a uma quantas pétalas tinha, trinta e seis. Uma flor amarela de 36 pétalas, muitas pétalas. Provavelmente única com estas características, amarela e de 36 pétalas, quiçá nunca catalogada. Arrancou cada pétala, uma a uma, fazendo um jogo de bem-me-quer mal-me-quer, sabia o resultado final, uma flor com quantidade de petalas pares, começando por mal-me-quer, daria bem-me-quer, mas não sabíamos por onde começou, quando terminou, esboçou um sorriso e jogou o resto da flor no chão, observou-a deslizar pelo ar e cair no solo. Agachou-se e por lá ficou, praticando o nadismo, pensando no nada, absorto com a figura das pétalas esparramadas, aquela flor destroçada. Foi quando lhe veio a ideia da história e da palestra, duma palestra sem sentido, que lhe daria dinheiro vivo. O nada lhe fugiu da cabeça. Esquematizou tudo, na palestra, contaria a historia de quando estava perdido no campo, sem ninguém ao redor, apenas o descampado pululando na sua vista e aquela flor amarela, de 36 pétalas. Contaria de como agarrou a flor com afinco para começar aquela brincadeira de nada a lugar nenhum, bem-me-quer, mal-me-quer. Do sorriso que esboçou ao terminar, dos restos da flor fraquejando pelo ar, até tocar no chão. De sua mente vazia, praticando nadismo e observando aquela imagem com jeito de pintura, que lhe fez surgir na mente a ideia da palestra motivacional, seria proferida para várias pessoas, uma plateia que lhe daria dinheiro. Entretanto, foi tudo um fiasco de palestra, poucas eram as pessoas que queriam ficar sentadas numa cadeira, dentro de uma sala climatizada, escutando um cara contar uma história sem pé nem cabeça, uma história de um cara absorto no campo, praticando o nada quando avista na linha dos pés uma flor amarela pregada ao solo, composta de 36 pétalas, as quais foram arrancadas pinçadamente, num jogo silencioso de bem-me-quer mal-me-quer, e o balé de todos aqueles restos que ora foram uma flor balançando pelo ar até tocar o solo e surgir a ideia da palestra fiasco, onde apenas míseras 36 pessoas compunham a plateia, todas de camisa amarela, as quais foram saindo uma a uma, antes mesmo do final da história, fez então a brincadeira, cada pessoa que saia, pensava silenciosamente para si mesmo, mal-me-quer, bem-me-quer, terminou com bem-me-quer e, de fato, a última pessoa bem-lhe-quis. E essa pessoa aproximou-se bem de frente ao palestrante e lhe pediu para recontar a história do rapaz perdido no campo, que vagava sem ter o que fazer.

quarta-feira, 13 de junho de 2012


ACONTECE

Acontece sempre ao amanhecer
Morre a menina
Nasce uma anciã.
A velha sorri para a vida
como quem sorri para a morte
e espera.

Acontece sempre ao meio-dia
A menina vai andando pela rua
deixando o que conquistou para trás.
Ela sorri para a vida
como quem sorri para o amor
e desiste.

Acontece sempre ao crepúsculo
Nasce a mulher
de mãos dadas com a anciã
Ela prevê o sorriso da menina
e espera.