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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Conto pro blog


Árvore Tétrica

Tive de ir na feira, fazer a feira, comprar certas frutas, legumes e verduras. No meio de toda aquela feira, tinha um rapaz com um boné que escondia o rosto, escorado em uma das quitandas com um ar misterioso. Passei perto dele e ele me chamou, perguntando se eu não estaria interessado em algo diferente. Pensei logo em drogas, mas não era isso, me mostrou três sementes verdes, afirmando que eram mágicas. Achei uma baboseira sem tamanho, ainda mais pelo preço que oferecia pela bagatela de três carocinhos pequenos e verdes, cinquenta reais. O rapaz do boné disse que eu poderia pensar, eu não iria me arrepender, iria me vislumbrar com o que brotaria daquelas sementes. Continuei a fazer minhas compras, mas com a ideia das sementes incrustadas na minha cabeça, criando raízes. Minha curiosidade brotou e resolvi despender os cinquenta reais naquela planta misteriosa. Fui lá no rapaz do boné, apresentei a nota de cinquenta e pedi as semente, ele as me deu. Me chamou pra perto e falou baixinho no meu ouvido o modo de plantio. Teria de plantar as três ao mesmo tempo em um vaso marrom, regá-las com cuidado durante três dias, no quarto dia, uma das sementes iria brotar e eu ficaria estarrecido com o que veria. Conferi as sementes na minha mão, quando olhei de volta, o rapaz do boné não estava mais no seu canto, havia sumido. Voltei pra casa pensando nas minhas sementes mágicas, três sementes, seria como João e o pé de feijão. Apesar da cor verde, não se assemelhavam a feijão, teria o mesmo tamanho, mas não. Será que no quarto dia acordaria com o telhado de casa arrancado, o vaso destruido e uma grande árvore, ponte que me levaria aos céus? Iria escalar toda aquela árvore, feito João, encontraria um castelo fincado em uma núvem, um castelo de dimensões gigantescas, onde moraria um gigante, enfrentaria o gigante, roubaria seu ganso, ou pato, não lembro, que põe ovos de ouro e fugiria, descendo o grande pé de feijão. Entretanto, isso é outra história, uma fantasia já contada. Talvez que ao invés de uma grande árvore, tivesse uma grande raiz, que cavaria terra adentro, até o centro do planeta, levando-me a uma espécia de inferno, encontraria um guia, Virgílio, que me guiaria pelos nove cantos do inferno real. Entretanto, nos encaminhamos pra outra história já contada.

Plantei as sementes num vaso marrom, segui o procedimento metodicamente, reguei todos os dias, sem falta, com paciência, esperando pelo quarto dia. Um pouco ansioso pra ver o que brotaria. Finalmente, durmo do terceiro pro quarto dia. Sonhei me acordando pela manhã, andava pela casa que parecia um pouco diferente, impressão de que tudo era maior, o corredor se alongava, tardando meu encontro com a planta vislumbrante. No momento que a encontrei, não a vi, acordei. Não era mais imaginário, estava na realidade, me dirigi pro local e lá visualisei a planta. De fato, foi vislumbrante, uma planta que nunca havia visto. Uma árvore diferente, não destruiu telhado, tinha cerca de um metro e meio de altura, crescimento instantâneo em uma noite, e o vaso não quebrou estava intacto, nada de descer nas profundezas do centro da terra. Sua cor era vermelha, sem frutos, seu formato de linhas retas, fazendo curvas de noventa graus. Um único tronco, conexo, sem ramificações. O formato me lembrou aquele jogo de celular da cobrinha, não o jogo moderno, sim o clássico, de tempos atrás, quando não se tinha cores nos aparelhos, apenas o tom monocromático. Poderia dizer também que remetia ao tetris. Foi assim que chamei-a: árvore tétrica. Dei um giro de trezentos e sessenta graus ao redor da árvore, para observar melhor, por incrível que pareça, independente do ângulo que olhasse, seu formato era o mesmo, uma ilusão de ótica real, uma árvore bidimensional.

Aproximei-me daquela flora diferente, toquei-a e, pra meu espanto, virou pó, um pó avermelhado, espalhou-se pelo chão da sala. Não fotografei, não filmei e virou pó. Quem iria acreditar na minha história da árvore tétrica sem nenhuma prova cabal? Uma grande decepção, depois de tanto tempo esperando, tudo virou pó. Além do dinheiro disperdiçado. No meu desespero, cavei em busca das sementes, estavam intactas, conforme havia depositado no vaso. Respirei fundo, angariando paciência e repeti o procedimento para que brotasse mais uma vez. Nada feito, no quarto dia, nada de árvore tétrica. Tentei mais uma vez, mas nada de novo. Desisti. Decidi passar as sementes pra frente, iria recuperar meu dinheiro, meus cinquenta reais. Peguei um boné qualquer e escondi o rosto, fui pra feira, fiquei no mesmo ponto onde aquele rapaz do boné estava. Observava as pessoas, analisando quem poderia se interessar por uma árvore tétrica. Encontrei minha vítima, uma mulher com ar de curiosa. Dei o bote, repeti a mesma ladainha que aquele rapaz do boné havia me dito. Ela, a princípio, pensou que fosse uma cantada, depois, quando viu as sementes na minha mão, viu que era sério, e resolveu comprar as sementes, me deu o dinheiro e eu lhe disse o procedimento de plantio e as entreguei na mão dela. Ao perceber que ela olhava pras sementes, foi a deixa que precisei, sumi.


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